Críticas – Animais Corporativos (2019), Até o Limite da Honra (1997), Bela Vingança (2020), The Undoing (2020), Pieces of a Woman (2020)

Igualdade ou vingança?

Demi Moore começou sua carreira com papéis ousados: Teve um namorado do outro mundo, recebeu Proposta Indecente, milionária, foi assediada sexualmente pelo chefe, e até fez Striptease a fim de reassumir a guarda da filha. O seu último longa: Animais Corporativos, no Telecine, equipara-se à obra literária: O Caso dos Exploradores de Cavernas ou ao verídico acidente aéreo ocorrido na Cordilheira dos Andes em 1972, misturado ao teatral humor sarcástico da série: The Office. Na trama, a CEO Lucy teve de praticar canibalismo diante de toda equipe para sobreviver. Contudo, em Até o Limite da Honra, Jordan O’Neil, apelidada pela imprensa sensacionalista de G.I. Jane, tornou-se a primeira Seal feminina da marinha americana. Um imenso potencial desperdiçado, incluindo a atuação piegas do futuro Rei Aragorn (Viggo Mortensen), ao tentar imitar o carrasco Hartman de Nascido para Matar. Ridley Scott também naufraga, ao insistir em irritantes narrativas feministas forçadas sobre a desagregadora guerra dos sexos, comparando inutilmente a força física de O’Neil com a força dos colegas brucutus, além de cenas de combate apressadas e confusas, ao invés de demonstrar o valor da causa feminina com inteligência, enfatizando na capacidade de liderança da tenente através dos seus conhecimentos estratégicos em guerra de guerrilha; virtude que passou despercebida. Veja o exemplo de Mulan e Gal Gadot – experiência adquirida no exército israelense, fundamental para ganhar o papel da Mulher-Maravilha

Ao contrário da diretora Emerald Fennell que em seu longa: Bela Vingança, critica o machismo feminino, fazendo as culpadas provarem do próprio remédio, na medida certa. Para a indicada ao Globo de Ouro, o crime não compensa. Apenas a violência gráfica, explícita, é capaz de sensibilizar os bárbaros corações arrependidos. Na trama, Cassie (Carey Mulligan) é uma jovem promissora que tenta vingar a morte da amiga Nina, estuprada na época do colégio, indo de boate em boate, antro de playboys bulinadores, fingindo estar muito bêbada para poder contra-atacar de forma inesperada com geniais argumentos ácidos, hilariantes. A nova Kill Bill também anota em um caderninho todo o processo da vingança, cujo método, equipara-se ao de Charles Bronson em Desejo de Matar. O arquiteto, traumatizado pela morte da família, escolhia violentos becos estratégicos à noite com intenção de ser atacado por criminosos para poder matá-los em suposta legítima defesa. A Arlequina, Margot Robbie, recusou o papel da atriz designada ao Globo de Ouro, mas virou produtora executiva do longa de roteiro ousado (ambos indicados), pelo qual a bela loira se apaixonou.

 

The Undoing, que concorreu a quatro Globos de Ouro, surpreende, a partir do título sugestivo da obra literária de Jean Hanff Korelitz (You Should Have Known) que a inspirou. A minissérie da HBO, dita um ritmo objetivo de suspense psicológico, intrigante. Em cada episódio é revelado um suspeito falso, enquanto surgem novas pistas evidentes sobre o comportamento sociopático do verdadeiro assassino, obcecado em divergir, obstruir e confundir a todos, incluindo os “jurados-telespectadores”. Da mesma produtora de Big Little Lies, Nicole Kidman interpreta uma experiente psicóloga de princípios morais universais (chamada Grace pela quarta vez na carreira), que ronda a cidade que nunca dorme, disposta a conhecer a verdade e fazer justiça, protegendo o pai (Donald Sutherland), o marido (Hugh Grant) e o filho (Noah Jupe) do assassino cruel, foragido. 

Pieces of a Woman, da Netflix, também adota a regra de ouro ou ética da reciprocidade, em oposição a eterna vingança, recorrendo a um análogo desfecho, igualmente justo. O longa de Kornél Mundruczó, produzido pelo católico Martin Scorsese, retrata os dilemas de uma jovem mãe, incompreendida pela família, que penou para superar as dores do parto traumático, sem demonizar a parteira (Molly Parker), apesar da constante influência negativa da sua mãe materialista (Ellen Burstyn), somado a difícil convivência com o marido hiperativo. Sean Carson é um ex-dependente químico de classe social e cultura antagônica, interpretado pelo alcoólatra Shia LaBeouf. A exemplo da psicóloga vivida por Nicole Kidman, Marta (Vanessa Kirby) também deu um tempo ao tempo até clarear as ideias, frutificar e amadurecer a semente do coração, a fim de encontrar com inteligência emocional o caminho do bem e da justiça comum, analisando a partir daí os fatos, racionalmente.

Animal Corporativo
(CORPORATE ANIMALS, EUA, 2019)
  • Gênero: Terror
  • Direção: Patrick Brice
  • Roteiro: Sam Bain
  • Elenco: Demi Moore, Jessica Williams, Ed Helms, Karan Soni, Dan Bakkedahl, Isiah Whitlock Jr., Jennifer Kim, Martha Kelly, Calum Worthy, Nasim Pedrad
  • Duração: 86 minutos

14 ANOS 125 minutos

Bela Vingança (Promising Young Woman)

Ano: 2020
Direção: Emerald Fennel
Roteiro: Emerald Fennel
Elenco principal:
 Carey Mulligan, Laverne Cox, Bo Burnham
Gênero: ​
Thriller, Comédia
Nacionalidade:
 EUA

The Undoing (Idem, EUA – de 25 de outubro a 29 de novembro de 2020)
Showrunner:
 David E. Kelley
Direção: Susanne Bier
Roteiro: David E. Kelley (baseado em romance de Jean Hanff Korelitz)
Elenco: Nicole Kidman, Hugh Grant, Edgar Ramirez, Michael Devine, Noah Jude, Lily Robe, Donald Sutherland, Ismael Cruz Cordova, Norma Dumezweni
Duração: 52 min. aprox. cada episódio (seis episódios no total)

Pieces of a Woman (Pieces of a Woman | EUA, 2021)
Direção: Kornél Mundruczó
Roteiro: Kata Wéber
Elenco: Vanessa Kirby, Shia LaBeouf, Ellen Burstyn, Iliza Shlesinger, Benny Safdie, Sarah Snook, Molly Parker
Duração: 128 minutos


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