Críticas — Barbarella (1968), A Espiã Que Veio do Céu (1967), Atômica (2017), Aeon Flux — Operação Terminus (2005), O Exterminador Do Futuro (1984), O Exterminador do Futuro 2 — O Julgamento Final (1991)

As espiãs que amamos

Para o ex-Presidente da França Nicolas Sarkozy “O maio de 68 impôs o relativismo moral e intelectual a todos nós. Impôs a ideia de que não existia mais qualquer diferença entre bom e mau, verdade e falsidade, beleza e feiura”. Esse relativismo moral, atualmente no auge, fomentou a carreira de dois dos maiores símbolos sexuais dos anos 60′ e 70′. Jane Fonda era esposa do diretor Roger Vadim quando estreou Barbarella no cinema, cuja personagem foi baseada nos quadrinhos franceses de mesmo nome. A ficção se desenvolve num futuro distante, cujo planeta Terra vivia uma era de paz politicamente correta: sem armas, violência, perversão e malícia onde os habitantes conviviam nus como no Jardim do Éden: sem fazer sexo ou falar palavrão, a exemplo da distopia apresentada em O Demolidor (1993) estrelado por Sylvester Stallone, Wesley Snipes e Sandra Bullock. Isso até o Presidente da Terra armar aquela patrulheira espacial até os dentes com intuito de capturar Durand Durand no planeta SoGo, pois o cientista louco construiu uma arma secreta capaz matar todas as vítimas de prazer. Apesar da aventura psicodélica meio sadomasoquista não ter um roteiro definido é extremamente divertida em função do figurino brega inconfundível; mistura de Flash Gordon, Druuna e Plunct! Plact! Zum, de modo a influenciar as bandas Kiss, Duran Duran, e principalmente aquela geração de paz e amor. A astronauta sensual contava com a ajuda de um anjo sarado saído do labirinto por cima; sem derreter as asas no Sol ou comer o fruto proibido para ver a maldade nas pessoas.

Um ano antes de O Ano Que Não Terminou estreava no cinema A Espiã Que Veio do Céu (1967), de paraquedas, com a missão de impedir um mecanismo de disparo de uma arma nuclear cair nas mãos dos comunistas. Ocorre que a trama simples fica confusa pelo excesso de personagens; diálogos abruptos e sofisticados demais, ofuscando os trajes de banho sensuais daquela musa interpretada por Raquel Welch; embora haja perseguições à barco, avião, e até touro, em vez de duelos ordinários com armas de fogo.

O ex-dublê e co-diretor de John Wick: De Volta ao Jogo, David Leitch, aproveitou o sucesso da Furiosa para consolidar a carreira de Charlize Theron como heroína de ação com incríveis planos-sequência de até 10 minutos, visto apenas em OldBoy e Filhos da Esperança. Já o visual neon combina com o clima quente do auge da Dance Music e o Rock ‘n’ Roll oitentista de Queen, David Bowie, George Michael, New Order, Depeche Mode e Eurythmics. James McAvoy faz outro excelente vilão um ano depois de Fragmentado, enquanto Sofia Boutella protagoniza uma das melhores cenas lésbicas do cinema logo após encarnar A Múmia. Atômica (2017) foi baseado na graphic novel Coldest City, ilustrada em preto e branco pelo brasileiro Sam Hart, com intuito de homenagear o avô: um ex-contraespião do MI5 na Segunda Guerra Mundial, e a avó com os mesmos traços faciais da espiã do MI6. Lorraine Broughton (Charlize Theron) foi enviada a Berlim para investigar a morte de um oficial britânico e o desaparecimento de uma lista secreta contendo o nome de todos os agentes duplos envolvidos na Guerra Fria às vésperas da Queda do Muro de Berlin.

Um vírus elimina 99% da população mundial, mas quatro séculos depois, em 2415, os cinco milhões sobreviventes se refugiam numa cidade-estado murada onde o parto natural está proibido, cujo governo de Trevor Goodchild manda executar opositores confundidos à cientistas em busca da cura. Apenas o bom senso irá diferenciar o certo do errado. Charlize Theron, em Aeon Flux — Operação Terminus (2005) interpretou pela primeira vez uma agente dupla, embora sua personagem envolvida sexualmente com o ditador orwelliano capture muito pouco da animação noventista do mesmo criador de Fogo e Gelo e Animatrix, Peter Chung.

Sarah Jeanette Connor (Linda Hamilton) nasceu em 1965 na Califórnia; e apesar de ter sido abandonada pelo pai quando criança ficou pacientemente ao lado da mãe até a faculdade. No entanto, aquela vida sem perspectiva de futuro mudaria radicalmente em 12 de maio de 1984 quando Kyle Reese (Michael Biehn) a salvou de O Exterminador do Futuro (1984) com uma das frases mais famosas do cinema: “venha comigo se quiser viver!” A partir dai, aquele casal foi considerado louco em razão do desejo da futura mãe de John Connor destruir o prédio da Cyberdyne Systems, conforme a cena deletada do filme. Ocorre que aquele soldado valente acabou criando acidentalmente um paradoxo temporal ao se tornar pai dezenove anos antes de nascer, embora na linha do tempo original o primeiro marido daquela garçonete permaneça desconhecido. John, o líder da resistência que o enviou ao passado, nasceu em 28 de fevereiro de 1985 enquanto a mãe realizava um intenso treinamento militar na América Central, a fim de dar a vida por ele contra as máquinas até o Dia do Julgamento, em 29 de agosto de 1997, antes de ser internada num hospício ao tentar explodir o covil da Skynet. Dez anos depois, é a vez do filho, interpretado por Edward Furlong, ser perseguido por outro exterminador (Robert Patrick) muito mais avançado, apesar de estar protegido pelo guarda-costas do futuro (Arnold Schwarzenegger) enviado por ele mesmo. Sarah foi considerada uma das maiores heroínas do cinema ao lado de A Noiva de Kill Bill; Ellen Ripley da saga Alien; Major Motoko Kusanagi de O Fantasma do Futuro e a Imperatriz Furiosa de Mad Max: Estrada da Fúria.

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