Críticas  – Chocolate (2016), O Palhaço (2011), A Fantástica Fábrica de Chocolate (1971/2005), Wonka (2023)

Rafael Padilla (1865 – 1917) foi um ex-escravo vindo diretamente de Cuba que inesperadamente se tornou o primeiro artista negro da França na Belle Époque graças a parceria com o palhaço Footit (James Thiérrée — neto de Charlie Chaplin). Acontece que Chocolate (2016) acaba ganhando fama e fortuna como saco de pancadas do colega, apesar de provocar gargalhadas na plateia: tanto no teatro quanto no cinema – através das primeiras películas dos irmãos Lumiére – sendo lembrado até hoje. Enquanto Footit era reservado — e, de certo modo, melancólico — Chocolat (Omar Sy) era expansivo, mulherengo e beberrão, gastando todo seu dinheiro com jogos, bebidas, prostitutas e roupas caras. Para piorar, um revolucionário comunista e militante negro lhe envenena a alma, fomentando o rompimento de forma violenta daquela dupla de ouro, indissociável. Rafael, na verdade, não soube esperar com cautela uma nova mudança de paradigma, cujo “resultado é aquele no qual todo movimento revolucionário chega: o fracasso, a decepção e a morte” (Paulo Cruz).

O longa dirigido por Selton Mello acompanha a trajetória de Benjamim (Selton Mello) e Valdemar (Paulo José): dois palhaços conhecidos como Pangaré e Puro Sangue ao lado da divertida trupe do Circo Esperança. Por trás daquela maquiagem pesada, O Palhaço (2011) captura a essência da vida do circo tradicional setentista através do trabalho árduo de integrantes e familiares pelas estradas da vida nos rincões do país; ao mesmo tempo que a personagem interpretada por Larissa Manoela de apenas 11 anos na época simboliza a renovação. No Brasil, o primeiro palhaço negro da história foi Benjamim de Oliveira. O “moleque Beijo” nasceu em 11 de junho de 1870 numa família de escravos. Além do sucesso estrondoso na carreira, aquele palhaço fora do comum foi o idealizador e criador do primeiro circo-teatro.


Ao invés do pai dentista autoritário, interpretado por Christopher Lee em 2005, Wonka (2023) foi criado por uma mãe amorosa (Sally Hawkins) até a sua morte precoce quando o mágico viajou mundo afora em busca do grande sonho da sua vida. Ocorre que segundo o documentário: Super Size Me 2: O Frango Nosso de Cada Dia (2017) existe um cartel criminoso em conluio com o establishment em cada profissão, a fim de impedir o sucesso de concorrentes acima da média no mercado de trabalho competitivo – incluindo os herdeiros dessa oligarquia mafiosa em prol da mediocridade. Timothée Chalamet engrandece na performance musical heroica ao lado da graciosa Calah Lane; enquanto Paterson Joseph e a insubstituível Olivia Colman se destacam na vilania, e Hugh Grant e Rowan Atkinson (Mr. Bean) no humor pontual. A Fantástica Fábrica de Chocolate foi criada em 1964 pelo escritor galês Roald Dahl e adaptada para o cinema logo em 1971 com Gene Wilder eternizado no papel principal, apesar da ótima atuação de Johnny Depp na versão de Tim Burton, visando complementar e modernizar o clássico original. Willy Wonka parecia conhecer o comportamento daquelas criancinhas birrentas na palma da sua mão. Como um exímio administrador, ele direcionou cada teste a um convidado específico, a fim de encontrar o sucessor ideal para sua fantástica fábrica de doces – lembrando a bruxa do conto João e Maria. Se Augustus Gloop se afogou no lago por gulodice; Veruca Salt foi pelo seu egoísmo. A riquinha salgada, pedante e mimada pelo pai acabou entrando pelo cano, literalmente; enquanto Violet Beauregarde ficou roxa de raiva de tanta arrogância. Já Mike — metido a inteligente — foi contaminado pelos jogos violentos de videogame e programas de TV. Em oposição, Charlie Bucket representa a pureza e a inocência infantil da qual Jesus se referia. Vindo de uma família muito pobre e unida, o garoto se destacou pela sua caridade, bondade, honestidade, comedimento e compostura; por isso passou no teste. Os Maias acreditavam que o cacau era o alimento dos deuses: “O Fruto energético, foi considerado um símbolo da vida e fertilidade — o sabor apimentado estimulava o apetite, aumentava a resistência física e o vigor sexual além de reduzir a fadiga” (Cinema Secreto: Cinegnose).

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  1. ana lucia disse:

    Muito bom

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