Críticas – João e Maria (1983), João e Maria (1988), Os Irmãos Grimm (2005), João e Maria: Caçadores de Bruxas (2013), João, Maria e a Bruxa Da Floresta Negra (2013), A Visita (2015), Maria e João: O Conto das Bruxas (2020)

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Os filólogos de formação religiosa Calvinista, criadores do Dicionário Definitivo da Língua Alemã: Jacob Ludwig Karl Grimm (1785 – 1863) e Wilhelm Carl Grimm (1786 – 1859), compilaram com fidelidade os contos de fadas transmitidos oralmente de geração em geração, por camponeses, a exemplo da esposa de Wilhelm, Dortchen Wild, da empregada e a babá da família; pela classe média ou a aristocracia; vizinhos e amigos como a idosa Dorothea Viehmann, responsável por ditar a maioria. Entre 1314 e 1322 “A Grande Fome” decorrente de atividades vulcânicas e diversas mudanças climáticas dizimou cerca de 25% dos europeus por pneumonia, bronquite e tuberculose; canibalismo e infanticídio, por conseguinte, onde se encaixa a história de João e Maria, apesar de a coletânea ter sido publicada durante a invasão de Napoleão a cidade de Kassel em 1807, despertando o espírito nacionalista do romantismo alemão: uma das formas mais puras de cultura que uniu comunidades com o fim do Iluminismo. A misteriosa floresta de Sherwood que serviu de inspiração, ocupava uma área de 40.500 hectares, antes de ser transformada numa reserva natural em 2002 com apenas 180 hectares.

Já o longa-metragem de Terry Gilliam é uma biografia sobre Os Irmãos Grimm (2005), interpretados por Matt Damon e Heath Ledger, resumindo de forma bastante exagerada os contos mais conhecidos dos folcloristas: Chapeuzinho Vermelho, A Bela Adormecida, Cinderela, Rapunzel, João e Maria e Branca de Neve, quando a Rainha Má (Monica Bellucci) transformou o pai de Angelika (Lena Headey) num Lobisomem durante a ocupação francesa àquela região pelo cruel General Vavarin Delatombe (Jonathan Pryce).

João e Maria, arquétipos opostos da personalidade humana, simbolizam o amadurecimento da criança quando separada dos pais, cujos espíritos iluminados da natureza, servem de guia conforme o determinismo divino, enquanto a mãe se confunde à madrasta ou à bruxa, ao tentar aprisioná-los dentro do próprio útero, impedindo aqueles gulosos de crescer, análogo ao deus do tempo Cronos. Contudo, Maria teve astúcia suficiente para eliminá-las a tempo, após deixar de ser chorona e subordinada ao irmão. Outra adaptação em curta-metragem de 16mm, com apenas 116 mil dólares e o icônico Vincent Price no elenco, formado por atores japoneses, em que Tim Burton exibe cenários peculiares durante o feriado de Halloween em 1983, no Disney Channel. Nesta mesma época, o famigerado Teatro dos Contos de Fada, apresentado por Shelley Duvall, da TV Cultura, contava com a versão mais fiel, enquanto em 1987 a Cannon possuía a mais emocionante com muita liberdade criativa sem perder a essência, cuja mãe é boa, mas os filhos acabam perdidos mesmo assim. Em 2013, o “arqueiro” Jeremy Renner e a musa Gemma Arterton protagonizam uma versão adulta, sendo Caçadores de Bruxas, cuja líder Muriel (Famke Janssen) renasce das cinzas enquanto sacrifica doze crianças sob a Lua de Sangue. Esse filme de ação estreou no mesmo ano da comédia de terror moderna: João, Maria e a Bruxa da Floresta Negra onde nossos heróis acabam comprando maconha de uma bruxa-canibal (Lara Flynn Boyle) protegida pelo Esquadrão de Zumbis.

Em, A Visita (2015), Shyamalan fez questão de apresentar a sua versão found footage, quando os netos conhecem os avós numa fazenda isolada, enquanto a mãe curte um cruzeiro de uma semana. No entanto, o comportamento daqueles idosos fica cada vez mais estranho; seja por incontinência ou esclerose à noite, cuja tensão crescente é acompanhada de perto nas lentes da câmera de Becca (Olivia DeJonge) ou de Tyler (Ed Oxenbould).

A começar pelo título, Maria e João: O Conto das Bruxas (2020) promete ser uma subversão feminista asfixiante do conto em amarelo-âmbar, onde Maria (Sophia Lilllis) aos 16 anos, cuida do irmão João (Samuel Leakey) 8 anos mais novo, após fugir do empregador lascivo e da mãe enlouquecida por fantasmas, até ser acolhida pela artesã idosa Holda (Alice Krieg) ao perceber a mediunidade ostensiva daquela potencial aprendiz. Dessa forma, Maria é bem alimentada e se apaixona pelo ocultismo, conforme aprimora os dons de magia negra, por isso não pretende de início retornar à casa ou salvar o irmão jogado ao léu; mas se tornar livre e independente do patriarcado opressor.

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