Crítica — Chico Xavier — O Filme (2010)

20 anos sem Chico Xavier

Chico Amor Xavier, o maior médium de todos os tempos, publicou mais de 500 livros sem receber um centavo, enxergando mal com um olho, pois o outro ficou inutilizado pelo murro de um espírito trevoso. Porém, o matuto de Pedro Leopoldo, conseguia ler livros inteiros com apenas alguns toques no papel, cujo poder mediúnico do tato foi estudado pelo espírita Ernesto Bozzano em seu livro Enigmas da Psicometria. O filho de Maria João de Deus e João Cândido era atacado constantemente pela mesma imprensa militante que hoje divulga notícias falsas; confunde e desinforma o público. No auge desses ataques criminosos após a morte do sobrinho Amauri Pena, o “amado discípulo” pediu um conselho a própria Maria de Nazaré. Alguns dias depois, Emmanuel trouxe uma frase atribuída à mãe de Jesus: “isso também passa”. O pontífice entre os habitantes do arco-íris e o planeta Terra assistia futebol aos domingos enquanto respondia milhares de cartas; era fã do genial Johann Sebastian Bach, Ludwig van Beethoven e Noel Rosa; da série clássica Star Trek, Ghost — Do Outro Lado da Vida e E.T. — O Extraterrestre que completou 40 anos em 2022. No Programa Pinga-Fogo com o auxílio de Emmanuel e 75% dos televisores ligados o ilustre entrevistado definiu o aborto como “um assassinado de crianças”; defendeu a homossexualidade e a bissexualidade: “condições da alma humana”, e a cirurgia plástica: “para que venhamos a valorizar cada vez mais o veículo físico”. O médium ainda fomentou a vida em outros planetas (referindo-se a Marte) e elogiou o Regime Militar no auge do AI5: “Então, sem qualquer expressão eufemística, declaramos que a posição atual do Brasil é das mais dignas e das mais encorajadoras para nós, porque a nossa DEMOCRACIA está GUARDADA POR FORÇAS que nos defendem contra a INTROMISSÃO de quaisquer IDEOLOGIAS VINCULADAS À DESAGREGAÇÃO. Precisamos honorificar a posição atual daqueles que nos governam, que vigiam sobre os nossos destinos” (portal Saber Espiritismo). Nas eleições de 1989, nesse sentido, o escriturário datilógrafo aposentado do Ministério da Agricultura que trabalhou na Fazenda Modelo declarou abertamente seu apoio ao então candidato Fernando Collor de Melo.

Na noite do Dia das Mães daquela época, um jovem invadiu a casa de Chico Xavier, mas foi desarmado a tempo pelo PM Aparecido Evaristo Rosa. Chico tirou o criminoso da prisão e ainda pagou uma passagem de ônibus ao obsediado.

Emmanuel reencarnaria no interior de São Paulo em 2000, visando trocar de lugar com o “Mineiro do Século” que desencarnaria aos 92 anos em 30 de junho de 2002 durante a comemoração do Pentacampeonato de Futebol. “Há Dois Mil Anos”, a filha de Emmanuel, Flávia, era curada de lepra pelo próprio Cristo, enquanto sua esposa cristã Lívia era devorada por leões no Circo Máximo diante da covardia do marido encarnado como o prepotente senador romano Publius Lentuluss. Na pele do escravo Nestório, o senador romano reencarnaria “Cinquenta Anos Depois” para ser devorado pelos mesmos felinos famintos. O nome adotado pelo mentor espiritual de Chico homenageia sua mais bem sucedida encarnação, pois Manuel da Nóbrega ao lado de José de Anchieta fundaram a cidade em homenagem ao “Apóstolo dos Gentios”, Paulo de Tarso, dando início ao cristianismo redivido no Brasil após realizar a primeira missa no colégio da vila de São Paulo em 1553, na aldeia de Piratininga.

Em um bate-papo descontraído, cafezinho e o melhor pão de queijo do país com doce de Araxá de sobremesa, o apóstolo de Jesus contou ao amigo íntimo Geraldo Lemos Neto em janeiro de 1992, com quem conviveu por 21 anos, que ele teria sido a reencarnação do codificador de O Evangelho Segundo o Espiritismo, fundamentado na obra “Kardec Prossegue” de Adelino da Silveira. O pseudônimo Allan Kardec, adotado pelo professor Hippolyte Léon Denizard Rivail, foi inspirado na sua encarnação como o sacerdote druida que povoou a Gália na época de Júlio César entre o século II a.C. e o século II, d.C. até a doutrina ser suplantada pelo Cristianismo Primitivo. Convictos da imortalidade e da reencarnação, os Celtas iam para as batalhas sem medo de morrer. Era a preparação para a futura chegada do Espiritismo. A teologia druídica foi baseada nas tríades, formadas por ensinamentos em que cada um completava os outros dois. Os três princípios fundamentais eram: a eternidade de Deus, a perpetuidade do Universo e a imortalidade das almas. No século XV foi a vez de Kardec encarnar o clérigo erudito Jan Huss, discípulo de Wyclif (o futuro Léon Denis, autor de O Gênio Celta e o Mundo Invisível), cem anos antes de Martinho Lutero e a sua reforma protestante. O tcheco de Praga, cuja capital fora povoada pelos Celtas nos séculos IV e III a.C., batalhou para que a Bíblia fosse traduzida na língua do povo. No entanto, o contemporâneo de Joana d’Arc, caiu na armadilha preparada pelo cardeal Segismundo, sendo condenado à fogueira.

Geraldinho que nasceu numa família espírita de Belo Horizonte afirma com o consentimento dos descendentes de Eurípedes Barsanulfo, “o Médium de Jesus”, que Chico Xavier foi também Platão, René Descartes, João Evangelista e Francisco de Assis.

Em comemoração ao centenário do “Maior Brasileiro de Todos os Tempos”, baseado do livro As Vidas de Chico Xavier do jornalista Marcel Souto Maior, o ateu Daniel Filho dirigiu Chico Xavier — O Filme (2010), protagonizado por Matheus Costa, Ângelo Antônio e Nelson Xavier, Letícia Sabatella, Giulia Gam, Paulo Goulart, Tony Ramos e Cristiane Torloni; com destaque aos casos judiciais solucionados pela psicografia e a assinatura do morto, confirmando a inocência do réu. Nove anos depois o mesmo diretor de “Nosso Lar”, Wagner de Assis, dirigiria a biografia do “bom senso encarnado”, Kardec (2019), igualmente perseguido pela imprensa e os intelectuais e formadores de opinião da época; membros da Real Academia de Ciências Naturais ao expulsá-lo de lá. O Pentateuco Kardequiano sofreu ainda boicote da Igreja Católica ligada ao establishment e ao Estado comandado pelo Imperador da França Napoleão III. Em 9 de outubro de 1861 trezentos livros espíritas foram queimados na praça pública de Barcelona: “Graças a esse zelo imprudente, todo o mundo, em Espanha, vai ouvir falar do Espiritismo e quererá saber o que é; é tudo o que desejamos. Podem-se queimar os livros, mas não se queimam as ideias; as chamas das fogueiras as super-excitam em lugar de abafá-las. As ideias, aliás, estão no ar, e não há Pirenéus bastante altos para detê-las; e quando uma ideia é grande e generosa, ela encontra milhares de peitos prontos para aspirá-la“ — dizia o católico de nascimento tirado da prisão pelo padre e amigo Boutin. O pedagógico de Pestalozzi compreendeu o universo fantástico das mesas girantes, utilizando métodos científicos e racionais, mesclado a fé e a razão. A brilhante fotografia e a direção de arte mistura os saudosos raios de sol em amarelo granulado com a penumbra parisiense, típica de espíritos sofredores. O catedrático foi rigorosíssimo na seleção de todas as 1019 perguntas, publicadas em O Livro dos Espíritos, cada uma feita dezenas de vezes a diferentes Espíritos em diversos países. Dentre as frases mais famosas do codificador estão: “Todo efeito tem uma causa. Todo efeito inteligente tem uma causa inteligente. O poder da causa inteligente é proporcional à grandeza do efeito” e ”Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sempre, tal é a lei”. No dia 2 de abril de 1869, Kardec aos 65 anos foi enterrado em Paris, vítima da ruptura de um aneurisma, no mesmo dia do aniversário de Chico Xavier. 

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