Crítica – Pais e Filhos (2013), Os Seus, Os Meus e os Nossos (1968), O Céu É de Verdade (2014), Milagres do Paraíso (2016)

Black Friday: Reunião em família no Dia de Ação de Graças

A Black Friday começou nos EUA, aproveitando o Dia de Ação de Graças: início do período de compras um mês antes do Natal. Para o comerciante americano escrever com tinta preta significa estar com as contas em dia (sair do vermelho). No Brasil é o azul porque “blue” em inglês significa depressão. O feriado de Ação de Graças se confunde com o Natal, pois em ambos os casos a família se reúne numa ceia tradicional com Peru, apesar de o trânsito da volta pra casa ser um caos. Em Pais e Filhos (2013) duas famílias descobrem após 6 anos que os seus filhos foram trocados de propósito na maternidade após firmarem intensos laços afetivos com eles. O drama psicológico não apela para emoções atrativas em razão da câmera discreta e sem zoom, na mão do diretor Hirokazu Kore-eda, lembrando a do clássico Era uma Vez em Tóquio. A trama focada na figura paterna, analisa o contraste entre Ryōta – um arquiteto introspectivo em ascensão profissional – e o alegre ferreiro Yūdai morador da periferia do Japão, no limite de sua sobrevivência. Pressionados a fazer a troca o quanto antes, as duas famílias postergam o máximo possível enquanto os filhos pequenos convivem juntos. É possível o vínculo afetivo sobrepor ao vínculo sanguíneo? Ryōta Nonomiya (Masaharu Fukuyama) parte da lógica higienista, (corroborada pelas feministas pró-aborto) de que famílias mais pobres não tem condições de criar filhos, apesar dos camponeses em condições precárias ao longo da história provarem o contrário. Um bom exemplo é o casal de 18 filhos que inspirou a divertidíssima comédia: Os Seus, Os Meus e os Nossos. Yūdai Saiki (Lily Franky) é um pai ativo e brincalhão que adaptou muito bem o seu filho biológico, Keita (Keita Ninomiya), com os outros irmãos de sangue morando naquele caos estético. O pequeno Ryūsei (Shôgen Hwang) ao contrário de Keita foi transferido de lá até a casa organizada e sem vida do arquiteto abastado, embora ausente. Tal pai, tal filho. 

Os Seus, Os Meus e os Nossos (1968), se passa na época do baby boom, baseado numa história real publicada no livro Who Gets the Drumstick? Que motivou Henry Fonda e Lucille Ball a interpretar um casal de viúvos com 20 filhos: dez do almirante da marinha e oito da escritora e dona de casa que engravidou duas vezes mais, forçando o marujo a fugir rapidamente do Porta Aviões onde trabalhava, disposto a se doar e se sacrificar mais um pouquinho. Antes de viverem em harmonia, os diabinhos embebedam Helen North, cuja performance hilariante lembrou a do seriado I Love Lucy. O remake de 2005, , interpretado por Dennis Quaid e Rene Russo, é uma comédia pastelão que leva aos extremos o caos e a ordem, sem perder o caráter humano; mistura de Esqueceram de Mim e A Noviça Rebelde. Dessa vez, os irmãos biológicos e de criação por não se entenderem no início, planejam expulsar o pai disciplinador Frank Beardsley (Quaid) daquela casa. No entanto, a farsa acaba sendo descoberta e fortalecendo os laços familiares no final. 

Baseado numa história real, um garoto de 3 anos do interior do Nebraska tem uma experiência de quase-morte, e ao recobrar a consciência na mesa de operação faz revelações surpreendentes, as quais abalam a fé dos pais para sempre. O pequeno Colton Burpo (Connor Corum) ao sair do corpo vê os pais noutro cômodo e a sua irmã vítima de um aborto espontâneo com o avô que ainda não conheceu do outro lado. Suas revelações específicas provaram que O Céu É de Verdade (2014), comandado pelos anjos, chefiados por Jesus com quem foi conduzido pela mão, envolto num cenário florido, semelhante ao do filme Amor Além da Vida e Milagres do Paraíso. O pastor evangélico Todd Burpo (Greg Kinnear) é um homem comum com vários empregos a fim de pagar as contas com muita dificuldade. O bom pregador traz conforto humano aos fiéis fazendo palestras sobre o cotidiano, embora encontre dificuldades imensas em aceitar a vida após a morte, cuja reflexão é muito mais intensa. 

Caso semelhante foi o da bela Christy Beam (Jennifer Garner), ambientado em Burleson, Texas entre 2007 e 2012, que reconheceu apenas no momento da comunhão que a filha de 10 anos foi salva por um milagre. A verdadeira Annabelle que aparece nos créditos finais foi a primeira a acreditar nos Milagres do Paraíso (2016), apesar do prognóstico médico ter sido desanimador. Além da interferência divina, outros milagres partiram de pessoas inusitadas, responsáveis por salvar aquela garotinha da doença incurável. Para ser curada, Anna teve de cair de cabeça de uma árvore com aproximadamente 5 metros de altura e ficar desacordada por várias horas, numa experiência de quase-morte. Sem dor não tem ganho, no corpo e na alma. Os judeus fugiram do Egito e tiveram que passar 40 anos no deserto para chegar à Terra Prometida. A noite é mais escura antes do amanhecer.

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