Críticas – Amor e Inocência (2007), Razão e Sensibilidade (1995), Orgulho e Preconceito (2005), Orgulho e Preconceito e Zumbis (2016)

Os dois maiores clássicos de Jane Austen

Uma das maiores escritoras de todos os tempos publicou seis romances em apenas 41 anos de vida. Assim como Tolkien, Jane Austen (1775 – 1817) teve influências de Shakespeare e do catolicismo, sendo alfabetizada pelo pai: um reverendo anglicano extremamente culto que reunia com frequência toda a comunidade de Steventon em sua casa com aulas de literatura e principalmente religião. A precursora do romance moderno – em oposição ao romantismo piegas e superficial anterior – acreditava no amor puro e verdadeiro; numa época em que as mulheres se casavam apenas por interesse: porque não lhes era permitido herdar a propriedade do pai, arrumar emprego e lutar na guerra. Apesar de detestar a Revolução Francesa a autora foi considerada uma feminista pelos simpatizantes, embora as virtudes e a dignidade humana dos seus personagens transcendiam ao sexo, enquanto os protocolos sociais exagerados do início do século XIX eram descritos com muito bom humor e elegância; afastando-se dos instintos animalescos de sobrevivência ao priorizar a nobreza espiritual da cor do céu – desassociada de posses materiais. Os pretendentes daquelas jovens ingênuas eram apresentados pela escritora inglesa com ironia e sarcasmo, junto á sua renda anual; cujo final feliz simboliza a esperança onde todas as coisas se harmonizam conforme o mito humano.

Na cinebiografia Amor e Inocência (2007) aquela ótima pianista do interior da Inglaterra planta e cria porcos enquanto escreve romances num ambiente alegre e descontraído, ao lado da melhor amiga e irmã Cassandra (Anna Maxwell Martin) que desenhou o seu único retrato conhecido. Apesar das dificuldades, o seu namorado, Tom Lefroy (James McAvoy), lhe proporcionou momentos dignos de contos de fadas, sem a típica pompa aristocrática da sua literatura. Com a publicação de Razão e Sensibilidade em 1811, e Orgulho e Preconceito dois anos depois, Jane Austen (Anne Hathaway) obteve pela primeira vez uma renda financeira, mantendo o anonimato até a morte precoce.

 

Em Razão e Sensibilidade (1995), Elinor é a mais pura razão, enquanto Marianne é inteiramente sensibilidade. São a calma e a insensatez, garoa e tempestade. Emma Thompson roteirizou a adaptação dirigida por Ang Lee, cuja personagem interpretada por ela devia  permanecer sóbria e serena o o tempo todo, após a morte do pai. Aquela jovem centrada precisava administrar o modesto chalé da família, cercado de caricaturas humanas desequilibradas: como a mãe, interessada apenas em arrumar um marido para as filhas. Já Marianne Dashwood (Kate Winslet) foi prometida ao encantador John Willoughby (Greg Wise) antes de ser trocada por uma mulher mais rica. Essa desilusão quase a matou de febre infecciosa, embora a fizesse enxergar o amor autêntico do coronel Brandon (Alan Rickman). A voz da experiência do militar taciturno complementou aquela juventude desvairada. Ao mesmo tempo, a compenetrada Elinor (Emma Thompson) Amava, Trabalhava, Esperava e Perdoava, pacientemente; até ser pedida em casamento por Edward Ferrars (Hugh Grant) após aquele cavalheiro quase virar padre e romper o noivado com Lucy Steele (Imogen Stubbs). Maridos de grande caráter, incapazes de se expressar externamente. 

Orgulho e Preconceito foi estrelado por Colin Firth na famosa minissérie da BBC, em 1995, dando origem a uma divertida trilogia para o cinema, em 2001, protagonizada pela inconfundível Bridget Jones (Renée Zellweger). Sua missão era deixar de ser titia e perder peso depois dos 30. Os pretendentes que “duelavam” pelo seu amor foram vividos pelos próprios Colin Firth e Hugh Grant em cenas memoráveis de uma autêntica comédia romântica, inesquecível.

 Orgulho e Preconceito e Zumbis (2016) é uma paródia hilariante, cujas cinco irmãs eram exímias lutadoras de artes marciais, lideradas por Elizabeth Bennet (Lily James), a fim de combater uma população tanto de zumbis inteligentes quanto de zumbis racionais, impossível de identificar a olho nu sem o auxílio do especialista em mortos-vivos, Fitzwilliam Darcy (Sam Riley); apesar dos empecilhos criados pela megera Lady Catherine de Bourgh (Lena Headey), inspirada em Lady Gresham: uma personagem real interpretada por Maggie Smith na cinebiografia mencionada acima, dirigida por Julian Jarrold em 2007.

 

Por fim, na adaptação do mesmo diretor de Anna Karenina, Joe Wright, as irmãs mais velhas: Jane (Rosamund Pike) e Elizabeth Bennet (Keira Knightley) eram as que se complementavam – baseado na personalidade da escritora inglesa; enquanto as mais novas: Mary, Kitty e Lydia só se metiam em encrencas amorosas. No entanto, o excesso de otimismo de Jane Bennet, por não enxergar maldade nas pessoas, quase a levou à perdição, antes da loira se firmar com o Sr Bingley (Simon Woods). A jovem Lizzy, em oposição, era inteligente, perspicaz e perceptiva, embora preconceituosa com o caridoso Sr Darcy (Matthew Macfadyen), que salvou a honra da família Bennet às escondidas, como ensina Jesus: a fazer o bem sem ostentação. Ocorre que o orgulho do Sr Darcy escondeu a humildade dele, tumultuando o relacionamento dos dois, ao confundir Orgulho e Preconceito (2005). Isso até Lizzy os libertar após conhecer a verdade, sendo felizes para sempre.

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