Críticas — Garra de Ferro (2023), O Lutador (2008), Love Lies Bleeding — O Amor Sangra (2024), Guerreiro (2011)

Como esporte, o Wrestling (luta corpo a corpo) ou Luta Livre é quase tão antigo quanto o atletismo. Suas origens podem ser rastreadas até 15.000 anos através de desenhos em cavernas na França. No Brasil apenas a Luta Livre americana ficou conhecida, após ser “abrasileirada” no programa de TV do empresário Michel Serdan, “Gigantes do Ringue”, em 1973 na Rede Record. Um dos primeiros lutadores dessa categoria foi Jack Barton Adkisson (Holt McCallany), cujo nome do seu ataque característico nos anos cinquenta e sessenta é o título da cinebiografia sobre a sua família. Ocorre que para encenar o personagem nazista Fritz Von Erich, ele optou pelo sobrenome alemão da família, dando origem a conhecida “maldição dos Von Erich”. Em Garra de Ferro (2023), disponível no Now, aquele pai exigente obriga os quatro filhos durante os anos oitenta e noventa a conquistar o campeonato mundial que ele não conquistou; impondo uma rotina sobrenatural fadada ao desastre: alguns sem o menor cacoete para lutar; enquanto outros, passavam do limite a fim de chegar a perfeição e ao Hall da Fama do World Wrestling Entertainment (WWE); cuja esposa Doris Von Erich (Maura Tierney) enlouqueceu por dentro com medo de contrariá-lo. A atriz foi a esposa de Jim Carrey em “O Mentiroso”, o responsável por apresentar aquela “Garra de Ferro” ao filho pequeno e aos amantes do cinema como um todo. Destaque ao melhor papel da carreira de Zac Efron no auge da forma física.

Mickey Rourke arriscou lutar boxe na adolescência com o intuito de seguir os passos do pai, mas uma concussão abriu caminho para sua indicação ao Oscar, juntamente com Marisa Tomei em O Lutador (2008). A trama realista de Darren Aronofsky mostra o sacrifício dos atletas de WWE para entrar em forma, entreter a plateia, e só assim, ficar famoso e ser campeão mundial de Luta Livre. Apesar dos combates possuírem um roteiro já definido (como num filme) a preparação física dos atletas deve ser impecável, geralmente à base de esteroides e anabolizantes, aliado a muita musculação diária. Após 20 anos de carreira, Randy (Mickey Rourke) parece não acreditar que o tempo passou. O “Carneiro”, mistura de Hulk Hogan e Macho Man, mora num trailer alugado onde ainda joga o WWF WrestleMania do Nintendo em pleno ano 2000; luta em pulgueiros minúsculos com pouca plateia e troca a companhia da filha adolescente (Evan Rachel Wood) por uma prostituta mãe de família (Marisa Tomei), prestes a largar aquela profissão antiga por uma vida digna. Sweet Child O’ Mine era a música escolhida pelo ex-pugilista antes de entrar no ringue; por isso Axl Rose doou gratuitamente o uso da música do Guns N’ Roses antes do combate final no filme contra o Aiatolá.

O auge da carreira de Stallone, Schwarzenegger e Van Damme entre os mandatos de Margaret Thatcher e Ronald Reagan — até a queda do Muro de Berlim — provocou uma febre de marombeiros e fisiculturistas nas academias dos Estados Unidos como em todo o planeta, a exemplo de Love Lies Bleeding — O Amor Sangra (2024), que estreou nos cinemas brasileiros em 1.º de maio. Depois do promissor terror psicológico, Saint Maud, a cineasta Rose Glass dirigiu e roteirizou com Weronika Tofilska uma ode ao fisiculturismo em geral, provavelmente inspirado no episódio em que Marge Simpson usa esteroides em excesso, determinada a ganhar o campeonato de bodybuilding de qualquer maneira. O romance lésbico entre Lou (Kristen Stewart) e Jackie (Katy O’Brian) transborda sensualidade, aliado à fotografia suja e escura daquele ambiente dominado pelo pai de Lou (Ed. Harris), incluindo a polícia local. As cenas de humor sarcástico e terror gore confunde  fantasia e realidade diante do preconceito com as mulheres musculosas que dependem do seu físico escultural para sobreviver. Muito além de um romance ordinário, a paixão à primeira vista da funcionária de academia de ginástica por aquela fisiculturista fogosa desafiou o reinado do gangster cruel com inúmeras reviravoltas surpreendentes: ação e suspense na medida certa para o deleite dos fãs.

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Após o reinado de Muhammad Ali e Mike Tyson no boxe, o jiu-jitsu brasileiro da família Gracie os substituiu com louvor, amparados pelo sucesso de Vitor Belfort e Anderson Silva no UFC. Foi nessa época que estreou Guerreiro (2011), disponível no Max, sobre a saga de dois irmãos que acabam se enfrentando num torneio de artes marciais mistas (MMA) por motivos distintos. O fuzileiro naval Tommy (Tom Hardy) tenta descontar a raiva nos adversários pela morte precoce da mãe, cujo pai (Nick Nolte) passa a treiná-lo após se converter ao catolicismo e ficar sóbrio por mil dias. Enquanto isso, Brendan (Joel Edgerton) constituiu família, mas pode perder a casa onde mora caso não ganhe aquele prêmio milionário, dado apenas ao primeiro colocado. Para isso, o azarão começa a ser treinado pelo pupilo de Rickson Gracie na vida real, Frank Grillo, cujas coreografias colocadas em prática se confundem com o Card principal do final de semana.

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