Críticas — Barbie (2023), O Show de Truman — O Show da Vida (1998), Encantada (2007), Uma Cilada Para Roger Rabbit (1988)

Barbie X Barbie

Barbie (2023) governa uma utopia infantilizada em cores fortes e gritantes. Ao contrario do mundo de Platão, as ideias surgem no mundo físico onde essas bonecas adultas são vendidas por um bom preço, embora o padrão de beleza difere daquele de antigamente quando eram bonecas bebês cuidadas por crianças ao imitarem suas mães.

As multifacetas da Barbie estereotipada (Margot Robbie), tal como a contraparte masculina, o Ken (Ryan Gosling), lembram com a devida proporção os deuses da mitologia egípcia: Ísis, Osíris e Hórus, os quais ao lado de Maria de Nazaré governam a Constelação de Sírius como representantes da nossa jornada da alma, sempre. Na fantástica Barbilândia, no entanto, os habitantes levam uma vida fútil e hedonista, semelhante à artificialidade apresentada em O Show de Truman — O Show da Vida (1998), inspirado no episódio “Special Service” de Além da Imaginação. Lá, o único nativo de Seaheaven (Jim Carrey) foi o primeiro bebê adotado por uma empresa disfarçada de ilha pré-fabricada do pai postiço, Christof (Ed Harris). Dessa forma, Truman Burbank tornou-se o centro das atenções até completar 30 anos: bajulado principalmente pela esposa, Hannah (Laura Linney), o falso melhor amigo Louis Coltrane (Noah Emmerich) e o primeiro amor de mentirinha, Sylvia (Natascha McElhone). Ocorre que aquele gaiato nem desconfiava que estava sendo filmado por 5 mil câmeras com dezenas de atores e figurantes ao seu redor, 24 horas por dia, de modo a manter a audiência de bilhões de telespectadores por três décadas ininterruptas.

Assim como Truman, Barbie se libertou do Feitiço do Tempo ao entrar estranhamente na menopausa, sendo aconselhada pela Barbie-Bizarra (Kate McKinnon) a viajar até o mundo real, onde foi hostilizada pelas roupas chamativas, enquanto o parceiro metrossexual libertava o macho-alfa dentro de si, após ver um pôster de Sylvester Stallone. A ingenuidade da boneca perfeita com excesso de otimismo foi baseada no arquétipo das princesas clássicas da Disney: Branca de Neve, Cinderela, A Bela Adormecida e A Pequena Sereia, mescladas na película: Encantada (2007). Na trama, Giselle (Amy Adams) ao ficar noiva do seu príncipe encantado (James Marsden) acaba disputando o trono com a Rainha má, Narissa (Susan Sarandon): enviada por ela do reino animado de Andalasia ao Times Square em Nova York; até ser salva pelo advogado pragmático Robert Philip (Patrick Dempsey); com quem se casa apesar do choque de realidade a exemplo da parábola das 10 Virgens em que Jesus é o noivo; o pai do noivo é Deus, e a noiva é o planeta Terra. No final das contas, aquela princesa pura como a pomba aprendeu ser prudente como uma serpente no meio de lobos; enquanto o marido aprendeu a acreditar em contos de fadas ao vê-la cantar e encantar animaizinhos com sua voz de veludo, cujos Espíritos da Natureza conspiravam ao seu favor. Ajuda-te a ti mesmo, que o céu te ajudará.

Enquanto isso, Barbie caminhava de piada em piada sarcástica de duplo sentido, homenageando desde Orgulho e Preconceito até o Snyder Cut; quando finalmente se reuniu com o CEO da Mattel (Will Ferrell) e à criadora da Barbie dos anos 1960, Ruth Handler (Rhea Perlman), num encontro emocionante, apesar de continuar com celulite em vez de voltar para a caixa de bonecas enquanto homens e mulheres conviviam pacificamente em sua Terra Natal antes de se chamar “Kendom” durante a construção de um Muro de Berlim (quase finalizado) entre as duas realidades.

Mary Poppins e Se Minha Cama Voasse foram interações clássicas entre humanos e cartoons que inspiraram Uma Cilada Para Roger Rabbit (1988), numa época patriota o suficiente, capaz de reunir Looney Tunes e os personagens da Disney na Desenholândia, A trama noir à la Dick Tracy, mescla Los Angeles e Chinatown, durante a Era de Ouro das animações onde desenhos animados eram assassinados de verdade por humanos, enquanto as mulheres os seduzem até uivarem como lobos em sua caça. Mel Blanc emprestou a voz pela última vez ao Pernalonga, Patolino, Piu-Piu, Gaguinho e Frajola, enquanto Roger Rabbit e Jessica Rabbit (Kathleen Turner) foram inspirados nas atrizes Rita Hayworth, Veronika Lake e Lauren Bacall; e na personagem Red criada por Tex Avery. Todos esses personagens nunca mais foram lembrados porque não pertencem ao mundo politicamente correto insuportável de hoje.