Críticas – Amantes Constantes (2005), Os Sonhadores (2003), A Boa Esposa (2020), Ao Mestre com Carinho (1967), Mr. Holland – Adorável Professor (1995), Sociedade dos Poetas Mortos (1989)

Alunos ocuparam a Sorbonne, em 3 de maio de 1968 a fim de contestar a demissão do fundador e idealizador da Cinemateca Francesa, Henri Langlois. Na semana seguinte, mais de 10 milhões de pessoas: equivalente a dois terços da força de trabalho francesa entraram em greve. O país colapsou, e aproximadamente 500 pessoas acabaram presas provocando uma onda de protestos em todo o planeta, financiados pelo governo genocida de Mao Tsé-tung que afirmava: “A revolução é uma insurreição, é um ato de violência pelo qual uma classe derruba a outra”. No entanto, o fogo de palha para inglês ver apagou no mês seguinte, e a ordem foi restaurada com o retorno do presidente Charles de Gaulle ao país.

Katherine Heigl

O longa francês, Amantes Constantes (2005) destaca as consequências dessa rebeldia estudantil, baseada em diversas causas justas, cujo objetivo real era se vingar da repressão dos pais e professores, em troca de um estado cada vez maior, mais intervencionista, paternalista e controlador; confundindo liberdade com libertinagem. Porém, aquele ano ainda não acabou: até hoje é proibido proibir.

Em, Os Sonhadores (2003) o puritano Matthew (Michael Pitt) é um intercambista americano de San Diego, na Califórnia, hospedado na residência do casal de gêmeos siameses, ligados psicologicamente entre si em homenagem a Hermafrodito e a Ninfa Salmácis. Conta a narrativa grega que a atração entre aquelas almas opostas era tamanha que acabaram se fundindo num único ser. Na trama do filme de Bernardo Bertolucci, que também participou dos protestos ao lado daquela romântica juventude manipulada, Isabelle (Eva Green) e Théo (Louis Garrel) passam entender a conflitante visão padronizada daquele capitalista angelical, fora da bolha, envolvendo deliciosas discussões e brincadeiras sexuais acaloradas sobre a Era de Ouro de Hollywood e o auge do Rock’n’Roll: entre Charlie Chaplin e Buster Keaton, Eric Clapton e Jimi Hendrix; misturado ás cenas dos clássicos: Bande à part, Persona, A Vênus Loira, Scarface, Luzes da Cidade, Juventude Transviada e Crepúsculo dos Deuses. O sedutor triângulo amoroso idealizava o alter-ego racional e emocional de Bernardo Bertolucci.

Enquanto isso, na Alsácia, um paraíso franco-alemão afastado do caos parisiense, mulheres impedidas de votar e ir a guerra para serem mutiladas, fazem um curso leve sobre Administração Doméstica e Boas Maneiras. Isso até a proprietária Paulette Van der Beck (Juliette Binoche) ter de cobrir urgentemente o rombo  financeiro daquela escola de freiras à beira da falência. A necessidade extrema fez A Boa Esposa, (2020) aprender a dirigir até o banco mais próximo e estudar contabilidade e economia com o seu primeiro namorado de infância, André Grunvald (Edouard Baer). Uma deliciosa comédia no tom certo, cujas donas de casa aprenderam etiqueta e culinária; além de economia e administração financeira. Em outras palavras, o curso instituiu deveres e obrigações às estudantes femininas, ansiosas apenas por direitos iguais.

Paralelamente do outro lado do oceano, afro-americanos conquistaram a duras penas, direitos civis fundamentais após a revogação das leis democratas Jim Crow, enquanto o engenheiro negro desempregado Mark Thackeray (Sidney Poitier) dava aula na periferia de Londres para jovens com problemas familiares. O seu método milagroso ao estilo Mary Poppins, consistia na filosofia prática aristotélica: ao identificar os problemas de cada um dos estudantes e poder solucioná-lo de forma consciente e criativa em meio a uma grade curricular diversificada, proposta pelos próprios alunos diariamente, ao invés de se renderem àquele sistema escolar engessado e desestimulante. Em oposição aos protestos que ocorriam no país vizinho, o mestre respondeu aos pupilos com o mesmo carinho de sempre: “É dever de vocês mudar o mundo sem violência, pacificamente, individualmente, não em bando. Os Beatles, por exemplo, iniciaram uma revolução social; suas roupas e cortes de cabelo são adotados no mundo inteiro. Toda nova moda é uma forma de rebelião”. Nesse sentido, Allan Kardec complementa na Revista Espírita de fevereiro de 1862: “Quando os homens forem melhores, as reformas sociais verdadeiramente úteis serão uma consequência natural”. Ao Mestre com Carinho (1967) inspirou muitas outras obras cinematográficas como, por exemplo, Sociedade dos Poetas Mortos, Mr. Holland – Adorável Professor, Entre os Muros da Escola e Merlí, porém, com algumas diferenças significativas.

Enquanto, Ao Mestre com Carinho se desenvolve em apenas um ano letivo, focando no comportamento daqueles alunos indisciplinados, em Mr. Holland – Adorável Professor (1995), Glenn Holland (Richard Dreyfuss) leciona por mais de 30 anos, dedicados à escola de música John F. Kennedy High School. O catedrático foi o grande responsável em transformar a vida de dezenas de alunos em diversas turmas, utilizando uma técnica diferenciada somado a uma singela dedicação individualizada de apenas alguns minutos por dia àqueles com maior dificuldade de aprendizado; afinal os sãos não precisam de médico. Louis Russ (Terrence Howard) nunca teve contato com qualquer instrumento musical e aprendeu a tocar tambor alegremente em sua breve passagem pela Terra: sentindo-se útil e importante pela primeira vez. Entre as décadas de 1960 e 1990, acompanhamos as transformações socioeconômicas nos EUA, ao estilo Forrest Gump; até 1995 quando estreou o filme. Entretanto, o maior desafio da carreira de Holland foi compreender o comportamento do filho surdo até os 15 anos, quando a música fez parte da sua vida por intermédio do pai desnaturado.

Por fim, em 1959, John Keating (Robin Williams), o novo professor de poesia de uma escola tradicional fundada há 100 anos, também se opôs aquele ensino ortodoxo, adotando métodos diversificados com o intuito de fazer o aluno pensar por si próprio sem ser manipulado pelo sistema como massa de manobra. Acontece que o poeta joga apenas ideias subjetivas e extremamente perigosas naquelas mentes em formação, sem ao menos interpretá-las corretamente, formando um exército inflamado de rebeldes reprimidos, cujas ideias deturpadas fomentam a violência, rumo a uma inevitável tragédia (análogo ao longa alemão, A Onda). Carpe diem significa aproveitar o dia com qualidade, sabedoria e responsabilidade, ao invés de aproveitá-lo com intensidade, cegamente: sem freios e contrapesos – como interpretou aquela Sociedade dos Poetas Mortos  (1989).

Amantes Constantes (2005) – Nota: 3,5 

Os Sonhadores (2003) – Nota: 4,5

A Boa Esposa (2020) – Nota: 3,5

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Ao Mestre com Carinho (1967) – Nota: 5,0

Mr. Holland – Adorável Professor (1995) – Nota: 5,0

Sociedade dos Poetas Mortos (1989) – Nota: 2,0

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