O Homem que Ri (2012)

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A história contada por Victor Hugo em “O Homem que Ri” já foi adaptada algumas vezes para o cinema; a mais memorável delas sendo o filme de 1928 que trouxe o ator Conrad Veidt para a pele do protagonista Gwynplaine, um homem cujo rosto foi deformado em um assustador e constante sorriso.

A versão mais recente, do diretor Jean-Pierre Améris, não consegue, no entanto, deixar o mesmo impacto de sua antecessora.

Para quem não conhece a história original, ela é ambientada na Inglaterra do século XVII e acompanha um garoto que, ainda menino, é sequestrado por homens que cortam em seu rosto um sorriso constante.

Eventualmente, Gwynplaine se liberta e salva a vida de uma garotinha cega, Déa. Os dois acabam encontrando Ursus, um artista circense viajante, que os adota e acolhe. Os três vivem juntos por 15 anos, durante os quais Gwynplaine descobre que a bizarrice de seu rosto é perfeita para chamar a atenção em espetáculos.

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Estes espetáculos são peças de teatro ao ar livre, que contam diferentes versões da história de Gwynplaine – um homem deformado e sem lugar no mundo, que encontra o amor, em uma menina cega – que consegue ver além de sua aparência.

O enredo destas peças, com ares de fábulas e contos de fadas, espelham o foco central do filme – o romance, idealizado e dramático, que começa entre Gwynplaine e Déa.

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Claro que, como estamos falando de algo escrito por Victor Hugo, a história não poderia ser desprovida de crítica política. Essa parte do enredo é aprofundada quando Gwynplaine descobre que vem de uma família nobre e fica dividido entre permanecer na vida de que gosta, com as pessoas que ama, ou se tornar o herdeiro de uma posição social proeminente, e parte do circo de falsas cortesias da alta sociedade.

O filme retrata Gwynplaine como o peixe fora d’água nesse meio, não por sua aparência, mas por ser alguém de origem humilde, que conhece as agruras pelas quais passam os pobres, tem vontade de mudar isso, e acredita ter chance de ser ouvido pelos nobres.

Se qualquer parte da história pareceu clichê é porque é, e bastante. Os próprios personagens, à exceção do protagonista, são todos arquétipos – Ursus é a figura paterna, grande e e protetora (com Gérard Depardieu sendo o intérprete óbvio, mas perfeito para o papel); Déa é a garota virginal, amada e idealizada e a duquesa, uma mulher por quem Gwynplaine brevemente se apaixona em dado ponto do filme, é o outro lado da moeda – a mulher luxuriosa, que representa a tentação de uma vida de ostentação e prazeres que o protagonista acredita desejar.

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O problema com “O Homem que Ri” é que a história, além de ser clichê, tem algumas partes bastantes forçadas e, pior que isso, a idealização e romantismo tiram um pouco do peso dramático da história.

Um exemplo fácil, é a própria maquiagem do protagonista, um ponto crucial, em um enredo que gira em torno de sua suposta deformidade. Enquanto no filme mais antigo que eu mencionei antes, a maquiagem é memoravelmente assustadora, neste, ela faz pouco, além de tornar o ator principal um pouco menos atraente.

Algumas pessoas possivelmente vão lembrar do Coringa de “O Cavaleiro das Trevas”; pessoalmente, me lembrou uma versão um pouco menos trágica do Eric Draven, de “O Corvo”.

Reprodução / Blogs POP

A comparação, aliás, não é completamente descabida, porque o filme tem uma estética visual que tende para o gótico e combina bastante com temática teatral do longa. É uma pena, na minha opinião, que o diretor tenha optado por um visual mais contido, sem o exagero e a personalidade que outros cineastas – como um Terry Gilliam ou um Tim Burton – poderiam ter dado a esse tipo de história.

Em resumo, “O Homem que Ri”, é o filme que tem a história, o elenco e os visuais com todo o potencial para dar certo, mas o roteiro foi reduzido a alguns clichês e o diretor não quis ousar no restante. Mesmo assim, vale a pena para quem gosta de uma história fantasiosa e diferente – ainda que essas pessoas vão deixar o cinema com aquela sensação de “esperava mais”.

Por Ana Cecilia de Paula : http://blogs.pop.com.br/cinema/critica-o-homem-que-ri/

1 comentário Adicione o seu

  1. ana lucia disse:

    Excelente.

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